Por Silvana Byrne, Psicóloga
Hoje o mundo inteiro está sentindo um impacto na economia, mas especialmente na saúde mental. Este impacto psicológico e um futuro imprevisível, está diretamente relacionado ao medo de perdas, estamos sofrendo a perda de nossas liberdades, perdas de vidas e papéis deixados para trás na luta para vencer o coronavírus. Temos medo de perder nossos familiares, nossos empregos, nosso modo de vida e, até medo de nossa própria morte.
Qual a relação entre o impacto psicológico do COVID-19 e o processo de luto?
Nossas respostas individuais diante dos medos variam bastante, porém podemos fazer uma associação sobre nossas reações individuais e coletivas diante do que estamos sentindo e como reagimos diante da pandemia do COVID-19 e as fases do luto, baseado na teoria do livro "sobre a morte e o morrer", da Dra. Elisabeth Kübler-Ross, que nos explica as cinco fases universais do luto: Negação, Raiva, Depressão, Negociação, Aceitação.
Segundo a autora, essas fases não são estados psicológicos fixos, pois podem ou não ocorrer na ordem apresentada, e algumas pessoas podem experimentar variações do mesmo estágio várias vezes, enquanto outras podem pular um estágio (ou estágios) completamente. Mas, como regra geral, esses são os princípios básicos do nosso processo de luto.
1- NEGAÇÃO
A negação é a rejeição intelectual e emocional de algo que aconteceu. A negação é também um mecanismo de sobrevivência muito necessário, desenvolvido ao longo dos milênios. Considere nossos ancestrais caçadores. Se um deles estivesse procurando comida e um tigre atacasse, e toda a dor do ataque do tigre fosse imediatamente sentida, teria sido incapaz de revidar ou fugir e procurar ajuda. A capacidade de "negar" temporariamente a dor física evoluiu, proporcionando a essa pessoa uma chance de sobrevivência.
A dor emocional pode ser negada da mesma maneira. A evolução criou nos seres humanos a capacidade de negar a dor física e emocional por um curto período de tempo a serviço da autopreservação.
A negação durante a Pandemia :
Essa coisa toda é exagerada. Que circo da mídia.
É o mesmo que gripe. As pessoas contraem a gripe todos os anos e quase ninguém morre.
Não sou velho, não tenho baixa imunidade, não tenho doenças pulmonares), então ficarei bem.
2 - RAIVA
O sentimento de raiva é fortalecedor. Nós nos movemos em direção à raiva, na tentativa de obter controle sobre nossos medos. Em vez de aceitar e lidar com o problema, nos tornamos hostis, culpando os outros, participando de lutas pelo
poder, externalizando a questão e, às vezes, e recusando-se a cumprir as regras.
A raiva durante a Pandemia:
Tudo isso é culpa da China. Se eles tivessem colocado em quarentena antes, não teríamos esse problema.
Não me importo com o que o governo diz sobre isolamento social, vou manter minha rotina normalmente.
Estou entediado e vou encontrar meus amigos e familiares.
3 - DEPRESSÃO/ TRISTEZA
A tristeza e a depressão ocorrem quando a realidade se instala completamente, quando não há mais espaço para negação. Há um sentimento de desesperança, um sentimento de que estamos totalmente sem poder e tudo está perdido.
A tristeza durante o Coronavírus:
Eu não posso sair para trabalhar, não posso ganhar dinheiro. Em breve, estarei sem dinheiro e sem teto. Eu perdi as minhas esperanças e sonhos.
Eu sou uma pessoa de alto risco e provavelmente vou morrer sozinho(a) e ninguém virá me ajudar quando chegar a hora.
4 - NEGOCIAÇÃO/ ADAPTAÇÃO
A adaptação ocorre quando começamos a reconhecer a realidade, mas não estamos prontos para desistir da ilusão de que ainda temos controle. Basicamente, tentamos fazer um acordo para encontrar uma saída mais fácil e menos dolorosa.
A adaptação durante a Pandemia:
Não há problema em passar tempo com os outros, desde que eles lavem as mãos antes de me verem.
Tudo terminará em breve e então podemos voltar ao normal.
Eu sei quando as pessoas parecem doentes. Eu ficarei bem enquanto permanecer perto de pessoas saudáveis.
5 - ACEITAÇÃO
A aceitação ocorre quando finalmente reconhecemos e nos rendemos aos fatos, sejam eles quais forem. Quando chegamos a esse estágio, podemos parar de negar e combater a realidade, e podemos começar a lidar da maneira mais eficaz possível com o que aconteceu e o que está acontecendo.
A aceitação durante a Pandemia:
Eu não posso controlar a pandemia, mas posso fazer minha parte mantendo o isolamento social, lavando as mãos e mantendo-me positivo.
O fato de não poder sair de casa não significa que minha vida tenha que parar. Posso trabalhar em casa e ainda posso me conectar com meus amigos e familiares por telefone e pela Internet. Também posso aproveitar o tempo extra que tenho com minha família e animais de estimação ou para fazer atividades que não tinha tempo antes e cuidar de mim.
Um outro aspecto importante é a perda de papéis que está acontecendo agora. Estamos sofrendo, por não poder atuar normalmente em nossas rotinas, nossa jornada e, acima de tudo, nosso contato regular com aqueles que estão em nossa jornada conosco.
Infelizmente, não podemos mudar isso agora, mas você entender melhor a perspectiva psicológica dessa experiência coletiva do que estão passando. Portanto, permita-se sentir raiva, negação, negociação e tristeza. Vá em frente e aceite estes sentimentos.
Um caloroso abraço virtual e que você encontre paz neste momento.
Silvana
Bio : Silvana Byrne, é Graduada em Psicologia, Pós- graduada em Psicoterapia Psicodramática e Psicologia Organizacional. Iniciou sua carreira em Psicologia Organizacional no Brasil em 2000 e atua como psicoterapeuta desde 2005. Mudou-se para a Irlanda em 2008. Em 2010 tornou-se membro acreditado da Sociedade de Psicologia da Irlanda, quando fundou a clínica particular Intercultural Psychology, onde oferece sessões online e presenciais em Inglês, Espanhol e Português para clientes de diferentes nacionalidades.
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