Por Caroene Santos Murray, Psicóloga
Quando falamos em gestação e Puerpério (fase pós parto) falamos do ‘não saber’, dúvidas, alegrias, medos e inúmeras outras possibilidades desse período tão intenso e turbulento. É um momento de cuidar do emocional, de cultivar o apoio, da busca pela escuta amorosa e qualificada para as angústias dessa mulher em transformação. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Gestação, Parto e pós-parto são períodos de intensas transformações para uma mulher, um casal, uma família. Para a mulher, em especial, de forma ainda mais intensa, pois seu corpo também é a base para o desenvolvimento e nutrição de um bebê. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
É uma fase de adaptação a nova vida de mulher, à vida de mãe. Quando uma mulher dá a luz, ela também nasce como mãe, as vezes no momento da descoberta da gravidez, as vezes na fase gestacional, no parto ou nasce quando estiver pronta no Puerpério, a mãe nasce quando seu emocional lhe permite!
O ciclo gravídico puerperal é um período intenso de mudanças que fazem com que nossa capacidade de adaptação e nossa resiliência diante do que já não conseguimos prever ou controlar como antes sejam constantemente colocadas em teste e reajustes.
Os reajustes são diários e sem precedentes, as vezes quando aquela nova mãe ou família estão se ajustando, se acostumando e desenvolvendo forças e estratégias de enfrentamento, tudo muda de novo, tudo se desorganiza e em diferentes e variados aspectos: pode ser uma nova sensação física ou emocional, um novo exame de saúde que traz consigo medos e dúvidas, alterações que mudam o curso da gravidez, do parto ou do pós parto, uma mudança de residência, uma crise financeira, um filho diferente do que idealizamos, um cenário de puerpério cheio de crises em paralelo, uma situação de luto…tanta coisa por este caminho mas faz parte desse novo contexto.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Mães em desenvolvimento vivem um turbilhão de emoções, geralmente bastante ambíguas: muita felicidade por se tornar mãe, mas se sentem cansadas e exaustas com a nova rotina; poderosas por gerarem um novo ser, mas inseguras se vão conseguir dar conta de cuidar de alguém tão pequeno e dependente; e por aí vai.
Mães têm sofrido sozinhas, caladas, profissionais de saúde despreparados para o apoio adequado, famílias desinformadas que também não conseguem perceber o que se passa ou prestar apoio efetivo. Todos podemos contribuir, começando por nos informarmos, sensibilizarmos e reconhecermos a fragilidade e vulnerabilidade de ser quem sustenta e suporta o início da vida de outros seres.
Devemos falar e alertar sobre uma das angústias e sintomas mais graves desse período gravídico puerperal que é a depressão perinatal (tipo de depressão que pode ocorrer durante a gestação e ate 2 anos do nascimento do bebê ).
É mais comum quando a mulher já apresentou histórico prévio de depressão e costuma ser mais prevalente em primíparas.
Normalmente o quadro inicia-se na gestação e é possível que ninguém o identifique. Nesse caso, ela pode também aumentar o risco de complicações obstétricas.
No pós-parto pode comprometer a capacidade de cuidados responsivos e sensíveis necessários para que o bebê desenvolva relações saudáveis de apego, habilidades de regulação emocional, habilidades interpessoais e mecanismos de resposta ao estresse e frustrações adquiridas.
Os sintomas são semelhantes à clínica da depressão só que agora comumente é também paralelo à dificuldade no cuidado e vínculo com o bebê.
Vale lembrar que muitos dos sintomas de depressão perinatal são parecidos com sintomas do baby blues ou/e também comuns no puerpério saudável por isso o diagnóstico precisa ser realizado por um profissional especializado em perinatalidade.
Se você se identificou ou conhece alguém que esteja passando por isso? Busque suporte adequado, informação de qualidade e atendimento especializado.
Esse período grávido e puerperal não é um período de fraqueza ou associado a um período de doença, mas é um período muito diferenciado e sensível, físico e emocional e que se não cuidado, desequilibra e adoece também, é um período que portanto implica em maior necessidade de apoio e proteção, e assumir o compromisso de juntos oferecer melhores começos e recomeços às famílias à nossa volta se torna importante.
No puerpério as mulheres precisam de muito cuidado dos outros e de si mesmas, pois é uma fase onde ela tem dificuldades inclusive de satisfazer suas necessidades básicas.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O auxílio e cuidado emocional proporcionará um espaço para reflexão em que essa nova mãe ou esses novos pais poderão compreender melhor as inúmeras mudanças que ocorrem em cada uma destas fases, expor suas expectativas, fantasias, medos e angústias, dar um novo significado para suas vivências e, assim, lidar melhor com a nova realidade e aliviar eventuais sofrimentos.
Novas mães (e os novos pais também) precisam se trabalhar para atualizarem seu novo “eu”!
Bio: Caroene Santos Murray
Psicóloga Clínica - adulto e infantil e Psicóloga Perinatal e atua em sua clinica Tree of Life em Dublin.
Encontrou seu lugar de pertencimento no auxílio ao outro.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
É formada em Psicologia pela UEL- Universidade Estadual de Londrina-Brasil e possui especialização em desenvolvimento/demandas infantis, ludoterapia e em Clínica Psicanalítica.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Caroene mudou-se para a Irlanda em 2010, e completou Mestrado em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Trinity College Dublin- Irlanda.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Por seu trabalho ter uma demanda mista no exterior acabou também se especializando na área da Psicologia Perinatal e do Puerpério, área que atua e tem um cantinho especial em seus estudos e aperfeiçoamentos profissionais no momento, além de questões do expatriado.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O trabalho de Caroene na Irlanda visa acolher com carinho as demandas individuais e coletivas de crianças, adolescentes, adultos, casais, famílias, pais e mulheres no pré, durante e pós maternidade (perinatalidade e puérperio).⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Oferece também consultoria parental para lidar com questões da primeira infância e da parentalidade e Pré-natal psicológico.
Comments